Demetre Anastassakis nasceu na Grécia, mais precisamente em Athenas. Mudou-se para o Brasil aos oito anos de idade, com o sonho de ser arqueólogo, se estabelecendo com a sua família em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Quando chegou ao Brasil, Brasília estava sendo construída e o subúrbio estava crescendo descontroladamente. Observou então a necessidade de arquitetos na organização do crescimento do espaço físico para atender a crescente demanda na construção civil. Formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UFRJ em 1973, sempre dividindo sua atuação profissional em três áreas: poder público, projetos em escritório e lecionando.
Com uma vasta experiência, iniciou sua trajetória como professor de Matemática, mais precisamente, de geometria. Apaixonado pelas formas geométricas, Demetre assimilou o uso destas formas na arquitetura. Ao longo de sua carreira, grande parte dedicada à habitação popular e planejamento urbano, o arquiteto diz não ter feito esta escolha durante a sua trajetória. Além de fazer projetos de casas e reformas para amigos de infância e de bar, fato muito comum no início da carreira de muitos arquitetos, seu primeiro trabalho foi dentro do funcionalismo público, no município de Nova Iguaçu. Ficou responsável pelo setor de urbanismo, fazendo o zoneamento do local de 1973 a 1975. Sentindo a necessidade de aumentar seus conhecimentos na área, Anastassakis termina a faculdade de arquitetura e ingressa no mestrado em planejamento urbano.
Segundo o arquiteto, a arquitetura brasileira passa por um momento de transição, deparando-se com novos desafios, oriundos da constatação de que os modelos de pensar a edificação e a cidade até o momento adotado não são mais capazes de atender as necessidades atuais.
Paralelo à nova realidade, grande parte dos profissionais arquitetos e urbanistas da nova geração, infelizmente dão mostras de não estarem envolvidos com a discussão sobre os caminhos a serem tomados pela sua profissão, muitas vezes negligenciando o objetivo maior que é o ser humano.
Nesta perspectiva, o arquiteto sente a necessidade, de, além de estudar as questões de planejamento e habitação, deveria fazer mais pela profissão, atuando também nas discussões surgidas sobre os caminhos de um arquiteto frente à sociedade, exercendo funções militantes no IAB, onde foi representante no conselho das cidades, presidente regional (1994/1995), e aos 56 anos diretor nacional da entidade.
Demetre tornou-se conhecido como o “arquiteto dos pobres” e passou a dar palestras e aulas sobre a problemática da habitação popular para a baixa renda. Acredita que o arquiteto deve se inteirar mais das causas sociais disponibilizando seu trabalho a preços que possam atender à população mais pobre, segundo o arquiteto, existe um montante populacional que possui grande potencial para serem inseridos no mercado imobiliário, porém, este próprio mercado não está preparado para atender essa parcela da população que tanto precisa de investimentos em moradia.
Sobre o crescimento das comunidades, Demetre lembra que na década de 50/60 quase não havia favelas no Estado do Rio de Janeiro, e o crescimento urbano com a falta de planejamento aumentou o número de comunidades carentes que cresceram de maneira descontrolada, inclusive em áreas de risco. Observa, que naquela época, e ainda hoje, existe uma grande necessidade de serem formados novos profissionais para área de planejamento urbano e habitação popular, Demetre alerta ainda que esta carência de profissionais reflete também nomercado imobiliário, que não está preparado para vender um modelo de casa que atenda as necessidades da população de baixa renda, motivo primordial para a favelização do Rio de Janeiro. De acordo com o arquiteto, os pobres também possuem dinheiro para construir, lembra que as favelas crescem desordenadamente com a maioria de construções bancadas pelo próprio dono, ou seja, disposição e vontade aliado a necessidade de moradia sem o financiamento público. Dentro desta questão, é defensor da lei nº 11.888/2008¹ (lei da assistência técnica) onde arquitetos pagos pelo orçamento público, trabalham para familia de baixa renda para a otimização do uso racional de espaço, evitando obras em areas de risco e a instalação de comunidades em lugares protegidos por lei.
Para Demetre Anastassakis, cidades sustentáveis como Brasilia, Goiania e Belo horizonte são seres viventes que podem nascer, crescer, viver, evoluir, adoecer e morrer. Por isso se deve pensar em sustentabilidade em uma comunidade, para que ela não abra mais uma rua ou viela, um bairro ou sub-bairro, trazendo para o local, prédios ociosos, galpões abandonados e terrenos baldios. No lugar disso: parques, escolas e prédios com serviços para a comunidade tornam-se essencial no modo de vida da sociedade em geral.
“O Rio de Janeiro é uma cidade com grandes áreas de aterramento, Manguinhos, Flamengo e Vigário Geral são alguns exemplos disso. Os governantes deixaram as pessoas construírem moradias nessas 'não cidades'. Inclusive foi o próprio governo que criou a primeira favela do Rio de Janeiro, o Morro da Providência, que, no final do século XIX, assentou, na encosta de um morro na zona portuária, os soldados que voltaram da Guerra de Canudos. E sempre tem gente querendo culpar a população por morar nesses locais. O que se precisa é fortalecer a implementação de programas de assistência técnica popular. As pessoas fazem seus 'puxadinhos' sem critério. Essa assistência auxilia para a construção com o mínino de segurança. Essa é uma forma de prevenir a construção insegura e em áreas de grande risco. “Assim podemos prevenir grandes tragédias.”
Demetre aponta que os governos devem ocupar os vazios inaproveitados que estão na cidade. Grandes lotes, construções abandonadas etc.
"Nessas áreas ociosas, devemos investir em projetos de moradias populares. Essa pode ser uma alternativa para solucionar os problemas de habitação do Brasil. Com esse tipo de construção também é preciso desenvolver infraestrutura de todos os tipos, desde a construção de redes de água e esgoto até meios de transporte, que atendam a essa população", explicou. Durante todo esse tempo, Demetre vem atuando pela causa da habitação popular, sempre defendendo que é possível projetar em grande escala com qualidade e diversidade.
Entre os principais projetos desenvolvidos por ele, quando era associado da Cooperativa de Profissionais do Habitat do Rio de Janeiro (CoÓperaAtiva), estão o mutirão São Francisco, para habitação popular, em São Paulo e o Conjunto da Maré, no Rio de Janeiro, em 1993, que fez parte do programa Favela-Bairro e foi exposta na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2004. Além de moradia digna, muitas vezes também planeja o urbanismo do local onde realiza seus projetos, como aconteceu na favela Novos Alagados, em Salvador, em 2003. Dentro da militância política, Demetre foi um grande defensor da criação do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo), projeto aprovado pelo Presidente Lula em 2011, que cria para os arquitetos um conselho próprio, retirando Arquitetos e Urbanistas do CREA e dando possibilidades destes profissionais regulamentarem as suas próprias profissões. Demetre Anastassakis Ganhou o prêmio Arquiteto do Ano em 2006 da FNA como reconhecimento de seu incansável trabalho em defesa dos arquitetos e de sua produção no exercício profissional. Atualmente, mantém um escritório no centro do Rio de Janeiro, trabalhando em projetos de planejamento urbano para a cidade de Pirapora em Minas Gerais e em projetos habitacionais de grande porte.
*Texto extraído da entrevistada concedida por Demetre Anastassakis para trabalho de pesquisa para conclusão da matéria História da arquitetura Brasileira. - 2010
Guilherme Zani