sábado, 10 de outubro de 2009

TioAcido

Chovia muito, o guarda chuva e nada era a mesma coisa, sentia minhas meias encharcadas, trocava os passos e a água no pé me agoniava profundamente. A noite estava fria, escura, pesada no silêncio de uma noite domingueira. Como odeio o domingo! Todos dormindo para preservar a labuta da segunda. O relógio ultrapassava às zero horas, madrugada de quinta-feira, avistei um aconchegante bar, pensei em entrar, logo me contive baixando a cabeça e passando direto. Atravessei a rua. Parei. Olhei para trás, o bar estava tão calmo. Não dava para ver o que, ou quem, tinha dentro, mas, definitivamente essa informação não importava. Que mal uma dose de conhaque pode fazer? Aproveito e torço minhas meias!

Abri a porta lentamente, o ringir estridente de suas velhas dobradiças denunciaram minha entrada. Ao fundo avistei o balcão, na frente mesas de sinuca com alguns homens e mulheres jogando. Atravessei o salão, encostei o umbigo no balcão, pedi um conhaque com mel, tomei até a metade. Logo o corpo esquentou, tirei o casaco e mandei para dentro o restante da bebida. Fui ao banheiro, depois de urinar tirei as meias e torci na pia, dei uma sacudida no cabelo para ficar com a aparência melhor, confesso que me sinto bem quando me vejo belo. Olhei meu rosto no espelho, a barba forte e fechada tampava as poucas rugas que nasciam. O tempo passara, olhava com vergonha por não ver mais em meus olhos o menino desbravador e destemido que tomava o mundo em seus punhos. O que sobrou de mim foi apenas um velho frustrado, sem vontade de viver, incapacitado de amar de novo. Joguei uma água no rosto, sorri faceiro para minha imagem refletida. Saquei do bolso um cigarro. Sai do banheiro. Quando atravesso a porta esbarro numa moça que passava perpendicular a minha saída.

Desculpe! Te queimei? Sim, respondeu gemendo. Mil desculpas, para queimadura de cigarro o bom é esfregar cabelo. Logo peguei sua mão, a queimadura estava localizada no antebraço, num gesto cortês e intencional passei meus longos cabelos lisos em sua pele machucada. Imediatamente ela sorriu, um riso franco de agradecimento, selando em paz meu pedido de perdão. Afastei e ela entrou no banheiro feminino. Sai do corredor e voltei a me escorar no balcão, desta vez pedi uma cerveja, o conhaque, a queimadura e a moça me deixaram meio quente. Derramei levemente a cerveja no copo, bebi tudo de uma só vez, estava com sede, olhei para o lado e a moça atravessava o salão, meus olhos acompanharam cada segundo de sua caminhada, como a desejei. Já algum tempo não sabia mais o que era tesão. Ela parecia ter seus vinte e cinco anos, pernas compridas e cuidadosamente depiladas, a saia colada me excitava, o corpete justíssimo salpicava os seios na cara de quem olhasse.

Virei para o balcão, enchi o copo, apaguei o cigarro. Procurei racionalizar o que estava sentindo, minha testa suava e meu pau endurecia, não entendia por que isso acontecia, não era o conhaque, muito menos a cerveja, quantas vezes me embriaguei e o que só consegui sentir foi vontade de morrer. Também não era a mulher, muitas outras já tinham se jogado nos meus braços e eu não dera a mínima. Será que é o bar? Ou estou desmistificando fantasmas que a muito me assombram? Sei lá. Desde a morte de Julia eu não conseguia ter com mais ninguém, fazia mais de ano que não dava uma trepava, queria, mas não conseguia, pairava um sentimento de culpa que me distanciava de qualquer mulher, não podia fazer isso, mesmo morta a presença de Julia era viva dentro de mim.

Devo muita fidelidade à minha esposa, foi ela quem me transformou no homem coerente que sou. A ela devo minha moral, minha vida. Aonde vou sou apontado como homem de respeito. Assim, até aquele instante, era o meu desejo de permanecer.

Mas meus olhos não saiam das suculentas coxas daquela gostosa. Seu olhar de puta corrompia minha razão. Acendi mais um cigarro e com a outra mão comecei acariciar meu pênis. Comia-lhe com os olhos e ela do canto oposto do salão deixava perceber que me via, sorrateiramente se distanciou do grupo que a cercava e num canto mais escuro começou a se tocar também. Como era lindo ver sua mão roçando entre as pernas, já sentia vontade de gozar.

Decidido, parti para o banheiro, o tirei pra fora e comecei a me masturbar, estava de olhos fechados, concentrado na sua imagem, percebi a presença de alguém, nem liguei, continuei com os olhos bem fechados, de repente senti sua língua quente chupando meu caralho, gemi como um animal insano. Violentamente a agarrei pelos cabelos, encostei seus lânguidos ombros na parede, mordendo fortemente seus lábios eu amassava seu quadril contra o meu, enquanto da sua boca podia-se ouvir gemidinhos parecido com o da queimadura. Baixava o ego da tortura, que excitante seriam seus gritos de pavor. Levantei uma de suas pernas, cheguei a calcinha para o lado e enfiei com força, sabia que estava machucando e que ela queria mais. Comecei a bater na sua cara ao mesmo tempo em que chamava de vagabunda. Machucava por cima e por baixo. Ela sussurrando pedia para eu bater mais forte. Mais forte eu batia! A coloquei de quatro com as mãos apoiadas no vaso sanitário, metia forte, puxava seu cabelo, socava suas costas enquanto ela pedia a Deus para eu não parar.

Come meu cú! Come meu cú! Mete esse caralho gostoso! Me rasga! Eu sou tua, me possui! Meu pau mais duro do que nunca entrou rasgando. Que cuzinho gostoso, apertadinho! Ela chorava de dor, soluçando pedia mais forte. A mistura homogênea do cheiro dos nossos corpos me entorpecia. No vai e vem grosseiro de nossa ação a cabeça dela batia forte na parede. Segurei seu pescoço e a empurrei forte contra parede a ponto de sua cabeça começar a sangrar. Antes que ela esboçasse qualquer tipo de reação, enterrei sua cabeça no vaso, ela se debatia freneticamente, seu corpo começou estremecer, gozei exatamente nesse instante, logo depois amoleceu, soltei as mãos que sustentavam seu quadril e ela caiu estupidamente morta ao meu lado. Não satisfeito puxei o cadáver pelas pernas, sai do banheiro e desci as escadas que davam ao porão. Entre ratos e baratas arreganhei suas pernas e meti de novo. Socava de raiva sua barriga, mordi seus fartos seios até rancar os mamilos, quando senti o sangue escorrer pela boca, gozei livremente.

Sai de cima da morta, sentei no chão, limpei as mãos e o rosto. Dever cumprido, minha vingança foi cruel - se é que uma vingança pode ser benigna - lastimei ter sido com uma bela moça, rezei silenciosamente, pedi para Deus guardar a alma daquela criatura que não tinha culpa de nada, acendi um cigarro e num surto de consciência percebi a necessidade de dar um fim ao despojo, procurei um lugar para escondê-lo, o porão era pequeno, entre as caixas de bebida encontrei uma machadinha. Não pensei duas vezes, esquartejei o presunto e joguei os detritos num saco preto de lixo, meus braços ensangüentados denunciavam meu delito, os lavei no banheiro, voltei para o balcão do bar, tive a impressão que não deram falta da moça. Mais um conhaque por favor! Bebi de uma só vez. Lembrei do sorriso de Julia, lembrei do nosso amor, lembrei pavoroso de como ela me deixou, vi seu corpo estuprado e mutilado em cima da nossa cama, que dor. Me sentia aliviado, vinguei seu sofrimento e minha vingança não foi contra o homem que a abusou, minha vingança foi contra Deus que o permitiu, naquela domingueira madrugada de quinta -feira gorda o Diabo possuiu meu corpo.


RODRIGO DUTRA

Um comentário:

  1. Caraca desse conto sai usn três. Que história legal. O início parece que vai pra um lado, mas logo segue outro caminho. E o caminho do conto revela o início e imprime no pensamento do leitor os sentimentos animais de todos nós. Ah, era domingo ou quinta? Rs!
    Um abraço do mano Eduardo Ribeiro
    www.baixadafacil.com.br

    ResponderExcluir